quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Natureza

Degusta-me como um gomo de jaca.
Sente o cheiro forte e as fibras grudando
nos dentes. Sente o caroço liso e robusto.
Despe-o e cospe. Masca infinitamente.
Eu sou seu pé na jaca.

Também sua minhoca.
Minhas curvas são anéis, cada um
contendo em si, meus medos, minhas
indecisões. Minhas grandes esperanças.
Suas projeções. Eu engulo suas merdas

e delas faço adubo. Serpenteio e me
contorço, na palma da sua mão, antecipando
o perfurar do anzol. Sou igualmente
sua lagartixa, quando danço. Uma hora eu corro

e só fica o rabo. Pra contar a história.

3 comentários:

  1. A declaração de uma relação verdadeira de um amor!

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    1. Mas como lagarta, depois do casulo, este amor mudou e agora é borboleta.

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  2. Uma relação de amor egoísta, necessário na luta pela sobrevivência. As interferências mutilam a possibilidade de mudanças ou interferem no processo de desenvolvimento. Se eu ajudar a borboleta a sair do casulo, ao sair ela cai no chão e morre. Não fica nem pra contar história. Elena

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