terça-feira, 19 de agosto de 2014

Lucy in the sky with diamonds – new version

the original can be found here

The girl tries to clean up the drops of puke 
with her old handkerchief.
Then she unfolds it and sits.
What a silly girl!

She seems tired, she is so quiet.
She could not remember when
the last storm had broken 
In her sweet marmalade world.

She embraces sadness.
What an enigma! Nothing there.
So she puts on her smile.
Her face twists into a fishhook.

It is not like any smile
we would see on TV.
She puts on that devious smile.
And she looks up.

The sky is pale blue.
She tries to make it bluer,
Brighter, as she is.
But she can't.

The sky remains dim and indifferent.
Some people wave from a distance
and she is unsure whether
they are true or just a mirage.

Numb, she cannot feel anything.
The sky, the waves, herself.
A spurt of happiness spouts
in her frigid heart.

Like two bodies occupying the same spot,
Separate, the energies do not mingle.

She sees the boy approaching and cringes.
What a foolish girl!
He puts his hands between her thighs and twinkles.
But she averts her glance and looks down.

She thinks about suicide
In a green meadow, full of sunlight.
And that she has never been given
a diamond yet.

It's no fun at all, she knows she can't.
The boy starts fleeing.
The girl closes her eyes and imagines
what it would have been like if

she had not existed at all.

Now, she wishes she could blink 
in and out of existence.
What a preposterous girl!
Then, she decides to travel.

But she doesn't know if she is going to Estonia or not.
She feels Venus is no longer in Scorpio
Maybe Saturn is taking over.
What a lack of perspective, girl!

She goes to the verge of the lake
Crying, the tears ooze on her cheek toward her chin
and they blur the reflection of her own image
and that of the sky.

More tears and they are her present
to the sky under her. Her diamonds.
She wants to tell the world, but she keeps
Mute as if in a vow. That's her new voice.

She has started packing now.
Be sure you kiss her goodbye, I don't think she is ever coming back.

domingo, 30 de março de 2014

Parada


No vórtice de uma jornada,
Um lugar que não existe.
Filas, corredores, retire os objetos de metal.
Nada nos bolsos? Então mãos ao alto.
Tudo invertido.
Retire também os sapatos, mostre os furos
Na meia. Mas vista vários pares de paciência.

O chão brilhante esconde as pegadas
Dos milhares de transeuntes
Apressados. Ninguém para e observa
A simetria das fileiras de cadeiras.
Aqui dentro sopra
uma brisa fria, um novo Zéfiro,
que agora se chama A/C.

O sol pisca neon-hospital
Prateando minha pele sem protetor.
Vence, de longe, o sol de fora que,
sendo seu arqui-inimigo,
bate insistente no muro transparente
Que separa tênue a realidade
Desse sonho que vivo desperto.

Vozes, choros, anúncios.
Zumbidos, mesmo no que deveria ser
O silêncio escuro da noite.
Nem mesmo espíritos vagando, só faxineiros.
Your attention, ladies and gentlemen,
Unattended baggage. Thank you for your
Condescendência? Má sorte?

Já terminamos o embarque e
estamos lotados e lotados e lotados.
A espera vã.
Seu voo será transferido, retransferido.
Dirija-se ao novo portão. Saia daqui.
Quarto lugar, um quase pódio.
Você perdeu.

Então, Standby.
A passagem pra quem não tem passagem
Se fecha como a porta do portão.
Fica esperando o fracasso da
Chegada de outrem.
Torcendo para que te reste um lugar
nesse mundo chamado avião.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Quarto escuro – segunda versão

(nova versão de um passado que se faz presente)
(Ao Miguel e ao Lele)

Ora, não é que minha vida torna de novo ao quarto escuro?
Não sou eu novamente tateando, na busca de alguma coisa que não sei direito o que é?
Volto a protagonizar a parábola da caverna, só que diferente. Não vejo sombras, pois tudo é sombra. O breu fala comigo e me chama: Entre, Entre, deixe-me te devorar.
Sozinho. Ouço gemidos de devassidão ao meu redor. Parecem aves estranhas. Roucas. Estalos de boca contra boca. Tocam a campainha em várias gargantas. Sou um animal. Porém, ao mesmo tempo, sou humano, mais humano do que jamais havia me sentido.
Sim, tenho consciência de mim, das minhas sensações. Tenho consciência demais. Do meu lugar ali, da minha alegria, sinto amor ao meu próximo e me entrego a esse amor, como quem se joga ao mar. A escuridão me agarra, me envolve e me expande. Eu sou do tamanho do mar parcamente iluminado, mas me sinto ainda poeira do universo. Porque mesmo ali, penso. Ou sou pensado.

Um grito e gemidos de dor. Quem geme? Quem é gemido? Busco a negação, porque percebo que estou em uma ilusão. Nem vítima nem algoz, talvez mais algoz do que vítima, sim, eu sou. Estendo minhas mãos de polvo que parecem mais de duas e sinto peles e aromas. Minhas narinas estão na ponta dos dedos. Mãos invisíveis se chocam contra as minhas e me afastam, me desviam do meu alvo. Cego. Me sinto a grande cobaia das minhas experiências mais cruéis, e exulto porque, a despeito de mim e do contexto, elas dão certo.

Viajo ali, sem sair do lugar. Me expando e volto a me encolher, energias perpassam meu corpo (seria eletricidade ou só tesão?). Agora estou menor do que antes.
Paro e busco e esta busca traz frutos doces, que deixam um gosto de podre na garganta que nem um litro de minhas lágrimas inexistentes e desnecessárias poderia fazer passar.

Provoco, queimo, odeio, caio e levanto. Preciso de (mentirinha de) cada um deles, e finjo que eles precisam de mim. Às vezes, apenas. Imprescindível. Será que um dia vou não precisar me sentir nas regiões abissais? É um prazer te conceder a minha companhia... será?

Fútil, leviano e superficial de novo. Mas o verniz é o da inteligência sem limites. Olha a casca, olha! Sou tudo, e da pior espécie, da pior laia. Uma daqueles tipos apaixonante, sou uma graça, sou leve, sou como um sopro de brisa numa manhã ensolarada e morna. Mas balanço como o galho das árvores.
Preciso jorrar como uma fonte, nascente de prazeres proibidos.


Eu queria ver! Meus olhos não se acostumam nunca com a ausência de luz. Ainda está tão escuro! Ouço o chamado pelo meu nome, mas ele não me pertence mais. Eu só consigo responder um grunhido, os sons primordiais. Rio como uma hiena doente. Por que eu entrei aqui?! Você pergunta por que e não como? Quero me tornar um semideus! Quero transcender! Quero poder tudo que não pude até esse momento e viver sem culpas, sem julgamentos. E desejo..., e... (gemo e me contorço. Suspiro.) É, por enquanto, isso basta...

Natureza

Degusta-me como um gomo de jaca.
Sente o cheiro forte e as fibras grudando
nos dentes. Sente o caroço liso e robusto.
Despe-o e cospe. Masca infinitamente.
Eu sou seu pé na jaca.

Também sua minhoca.
Minhas curvas são anéis, cada um
contendo em si, meus medos, minhas
indecisões. Minhas grandes esperanças.
Suas projeções. Eu engulo suas merdas

e delas faço adubo. Serpenteio e me
contorço, na palma da sua mão, antecipando
o perfurar do anzol. Sou igualmente
sua lagartixa, quando danço. Uma hora eu corro

e só fica o rabo. Pra contar a história.