domingo, 2 de dezembro de 2012

Viagem para Utopia: Dia 6 (versão de LVA)

Acordei de manhã e este seria meu primeiro dia sem o Dale. Ele desceu comigo enquanto eu comia alguma coisa e então a mãe dele me deu uma carona até a estação de trem. Eu estava preocupado porque não podia me atrasar. Minha apresentação seria a primeira na primeira mesa pela manhã. Eu tinha que procurar onde era a sala e enquanto estava lá, procurando por ela, descobri que era a única sala no outro andar, ela era um pouco longe das outras. Eu cheguei lá a tempo, mas todos os outros apresentadores já estavam em seus lugares.

O Professor Andrew Milner me apresentou e nós esperamos alguns minutos. Se no ano passado havia apenas eu, o outro apresentador, um cara barbudo e a mediadora da mesa, desta vez havia realmente uma plateia. Não era tão grande, só algumas pessoas mas mais do que eu esperava. O que acontece é que não havia nenhum desses grandes nomes se apresentando e eu acho que isso desencoraja as pessoas de irem e verem. De qualquer forma, não queríamos perder mais tempo e depois de esperar pelas pessoas por mais cinco minutos. Eu comecei. Eu li o meu paper e eu estava indo bem, falando sobre os movimentos sociais e sobre as obras da Marge Piercy. Eu tinha as folhas de papel com o texto e eu ia colocando as que eu já tinha lido na mesa, virando-as para baixo e eu estava indo bem quando eu vi que eu ainda tinha muitas folhas para ler e o Andrew me mostrou a placa de que faltavam cinco minutos. Eu fiquei nervoso e comecei a pular alguns parágrafos. Quando eu cheguei à última página eu lembrei. Eu imprimi não apenas o texto para minha apresentação, mas também as passagens de ônibus e algumas outras coisas, então, eu tinha uma pilha e eu coloquei tudo junto na minha pasta. Então, era uma falsa impressão que eu tinha ainda muita coisa pra ler e eu só espero que no final não tenha faltado coesão, mesmo com os meus pulos no texto. O apresentador me elogiou por acabar dentro do tempo e seguimos para o próximo apresentador, a Claire, que iria apresentar sobre um romance que eu não conhecia e a questão da deficiência. Depois disso, Eric Smith também tinha uma apresentação sobre outro romance que eu não conhecia e ele falou sobre domesticidade e diferença. (Nós conversamos mais tarde e eu descobri que ele tinha acabado de publicar um livro sobre ficção-científica de uma perspectiva pós-colonialista).

As pessoas na salas interagiram bem e a discussão foi legal. Até um cara que chegou no meio da minha apresentação me perguntou algumas coisas interessantes. A mais difícil de todas, e eu não pude lhe dar uma resposta apropriada porque talvez eu realmente não tivesse pensado nisso: por que o título da minha apresentação tinha “casamento” (da utopia com a distopia) nele. Eu queria dizer que isso era um link, como uma relação, mas ele queria saber se havia alguma implicação com a instituição do casamento.

A sessão seguinte que eu fui estava acontecendo na mesma sala. Seria Tom Moylan e Ruth Levitas, dois importantes autores de livros que li, e Peter Stillman, de quem eu nunca tinha ouvido falar. Eles estavam falando sobre o livro The Island de Aldous Huxley. Eu não tinha lido o romance, mas eu o conhecia e sabia que Huxley é um autor importante, eu queria ver sobre o que eles iam falar. Uma mesa apenas para esse romance era algo curioso. Eu o tenho na minha pilha de livros a serem lidos.

Depois da segunda sessão, era hora de almoçar. Eu tinha conversado com Wylie, que era estudante da Universidade da Florida e quem mais tinha me ajudado e me incluído em todas as atividades do Grupo de Leitura Marxista que eu comecei a participar.

Ele, todo o grupo da UF e eu, fomos arrebanhados pelo próprio Phil Wegner até o restaurante. Era na verdade uma praça de alimentação e ficamos um tempo decidindo onde iríamos almoçar. Eu escolhi comida chinesa: massa ou arroz, dois acompanhamentos e uma sobremesa. A comida era boa e depois de procurar lugar pra sentarmos juntos, e sentei na mesa com Wylie e conversamos sobre Gainesville, Toronto e outras coisas.

Depois do almoço, o grande grupo se separou: Wylie e alguns outros voltaram para o hotel e alguns de nós fomos para a galeria de arte. Era a chance, ou minha chance de ouro, de passar algum tempo com o Wegner e falar sobre a minha pesquisa. Eu ainda estava procurando ideias de como focar minha pesquisa e eu pensei que ele me esclareceria. Foi uma oportunidade muito legal, ficar falando sobre meu período em Gainesville, e ele me falou sobre a Suécia. Conversamos sobre arte e eu perguntei a ele se nós teríamos algum tempo para discutir meu trabalho porque eu senti que ali não era o lugar nem a hora. Ele disse que no dia seguinte haveria um jogo de futebol e que nós poderíamos conversar nos intervalos.

De volta ao hotel, eu tinha tempo para ver parte da sessão das 15h. Havia outro estudioso que eu tinha lido em meus estudos e que usei no meu mestrado, Vincent Geoghegan, então eu estava curioso para ouvir a bibliografia falar. Ele estava falando sobre pós-humano e sua apresentação foi um pouco mais do sofisticada do que eu podia cognitivamente digerir. Depois disso, um cara chamado Kyle estava falando sobre Sloterdijk. Ele é um filósofo contemporâneo que eu já tinha ouvido falar.

A mesa final era uma na qual eu estava muito interessado. Seria sobre distopia crítica, um conceito que será muito importante nos meus estudos. O termo foi cunhado por Tom Moylan e ele estaria lá como um debatedor da mesa. Foi a primeira vez que vi isso. Eles explicaram que era uma pessoa convidada para comentar sobre os as falas antes das perguntas. Dois dos apresentadores não eram famosos e o terceiro era Kathi Weeks. Eu nunca tinha ouvido falar sobre ela antes de ir para os EUA mas ela será uma das mais importantes oradoras de uma conferência que eu participarei e eu li um capítulo do livro dela The Problem with Work: Feminism, Marxism and Postowork Imaginaries. É de fato um livro muito interessante, então eu estava curioso para ouvir mais sobre o que ela tinha a dizer. A mesa foi instigante, mas eu vi a intenção dos oradores de transformar o conceito historicizado de distopia crítica de Moylan, que ele usou para um certo número de livros em um método. Ele argumentou contra isso.

Depois disso, haveria uma visita guiada para a coleção de ficção científica na biblioteca perto do hotel. Começaria uma hora depois do fim da última mesa. Eu estava cansado. Meu corpo e minha alma acharam que era melhor eu ir pra casa. Seria minha última noite com o Dale, então eu queria conversar mais com ele. E também, eu ia acordar cedo no outro dia, pois eu participaria de uma mesa. Aliás, durante essa sexta-feira, desde que eu estava respondendo as questões sobre minha apresentação, minha voz começou a falhar até que acabei ficando muito rouco.

Eu não tinha certeza se teria trens. Eu vi alguns partindo, mas eu preferi pegar um ônibus. Era engraçado porque tinha muitas pessoas em fila. Eram aqueles ônibus de viagem, não os tradicionais de cidade. O que aconteceu foi que o motorista continuou pedindo para as pessoas embarcarem e muitas tinham que ficar em pé. Alguns adolescentes começaram a fazer graça da situação, falando que ali era o Canadá e que eles não deveriam estar fazendo isso, que parecia um ônibus de país do terceiro mundo. Eu dormi e só acordei quando todo mundo que estava em pé teve que sair do ônibus para que as pessoas que estavam sentadas pudessem descer em Aurora, uma cidade antes de Newmarket.

Em casa, eu não me lembro o que aconteceu. Eu fiz as malas e lembro de Dale e eu conversei. Eu não sei porque eu tinha ficado tão cansado e eu ainda tinha uma semana antes de voltar pra casa.

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