sábado, 1 de dezembro de 2012

Para a Vó

Esse foi o discurso que eu fiz na ocasião dos 80 anos da minha vó!

***



Primeiramente, eu gostaria de dizer que é um privilégio e uma  honra poder ter alguns minutos para falar algumas palavras nessa ocasião tão bonita. Sei que muita gente estaria mais apta a falar sobre o que eu vou falar porque elas estão aí, presentes, no cotidiano, vivendo e compartilhando histórias, aventuras, se apoiando. E alguns, há muito mais tempo do que eu, muito mesmo (mas melhor não levantar essa bola). Eu estou meio por fora, literalmente, mas mesmo antes de vir, não estava tão presente. Porém, distâncias à parte, isso nunca impediu que eu observasse, perguntasse, e fizesse de tudo para estar por dentro do que estava acontecendo.

Portanto, mais do que uma mensagem que o Elton escreveu, o que eu quero aqui é ser o representante de toda uma família, formada por pessoas tão diferentes, cheias de sonhos e de medos diferentes, mas unidos por um amor em comum, o amor pela Conceição.

Eu pensei em fazer algo mais dinâmico, como se fosse um prego que você prega assim, pá, numa martelada só. Isso é porque eu não queria que as pessoas se emocionassem muito. Não pode se emocionar! Você mesma aí aniversariante... Pode ir parando.
Pensei também em dar pequenas marteladas de emoção, misturadas com algumas piadas. Por exemplo, ia colocar ali em cima, em vez de pá, pá-pum, mas essa coisa de pum ia dar ideias, principalmente para o Douglas, então, achei melhor tirar.

Pensei, o que eu poderia dizer então para uma pessoa que está fazendo 80 anos? Poderia fazer uma retrospectiva, falando de cada um deles. Um ano por minuto, ia demandar muita pesquisa histórica e estando longe isso ficou fora de questão. Fora que ficar aqui me ouvindo por 80 minutos, não dá né? Ia ser pior que discurso do Fidel Castro.

Pensei em fazer música, mas os músicos da família tão aí e eu tou aqui. Ia ser em bolero? Samba? Pensei até num funk. Mas não dava né? Olha bem a minha cara de compositor de funk. Daí, decidi fazer um poema mesmo. Um poema que falasse sem falar, daquilo que eu já vi e daquilo que eu acho que foi. O poema que se chama

Quando eu tiver 80 anos
(pausa dramática)
Apertem os cinto!

(pigarro)

Quando eu tiver 80 anos,
eu quero olhar pra trás e sorrir
lembrar das vezes que eu voltava pra casa à cavalo,
dos dias que eu brincava de boneca,
dos dias que a gente não tinha muito o que comer,
mas se sentava em volta do fogo e contava histórias.

Quando tiver 80 anos, quero ser lúcido
e lembrar os vestidos que eu fiz,
das moças que ensinei, das voltas e volteios.
Das barras que fiz, e segurei.
Remendando onde dava, às vezes me sentindo um trapo.
Mas sempre costurando as mazelas da vida e transformando
retalhos em obras de arte.

Quando tiver 80 anos,
quero olhar em volta e me ver cercado de filhos e netos e bisnetos,
quero brincar com eles, ensinar eles a falarem, e até dar bronca.
Correr atrás com vara de marmelo,
correr pra levar no hospital
correr pra dar um carinho, um cuidado
correr pra levar aqui, ali, médico, dentista, escola.
Nossa! Que canseira!
"Não falei que não era pra comer o bolo quente? Agora vai dar caganeira!"

Quando eu tiver 80 anos e essa família toda,
quero mesmo
Ver eles crescendo e
levando suas vidas da melhor forma que eles podem.
Sendo honestos, justos, estressados às vezes,
tá bom, às vezes até demais,
porém, felizes.

Quando eu tiver 80 anos, quero poder sentir um orgulho maior que eu
mas um orgulho humilde, é claro.
Quero poder aceitar meus queridos como eles são
diferentes do que eu esperava,
seguindo caminhos tortos e difíceis
Até amando de um jeito que eu não entendo,
assim, meio transviado
Mas sem deixar isso diminuir em uma gota, um nada,
o amor que eu sinto.

Quando eu tiver 80 anos, quero olhar pra trás e
lembrar do amor, do meu casamento,
das juras que a gente trocou,
das flores, dos momentos em que as vozes se alteraram,
mas que terminavam sempre em paz.
Quero até lembrar da insuportável dor
da sua partida. Porque com a dor a gente
aprende, até mais.
E quero te ver me esperando pra começarmos de novo,
novas juras, novos planos.

Quando eu tiver 80 anos,
Se eu tiver uma doença,
dessas assim, crônicas, quero lutar contra ela
e ter a certeza de ter vencido, dia após dia
tontura, suadeira, inchaço, repuxo.
Hipo hiper, eu sou mais.
E Vencendo aquela que queria me levar
com 60
com 70
vou estar nos 80, assim, sambando na cara dela.

Finalmente, quando eu tiver 80 anos,
Quero ter visto coisas surpreendentes,
Quero ter feito coisas surpreendentes,
Quero me surpreender positivamente
todos os dias.
Quero, ainda, estar preparado para maior surpresa de todas,
Afinal, minha vida vai ter sido plena, colorida, cheia de risos e lágrimas
Cheia de vida!

Ah e quando eu tiver 80 anos, eu vou sentar com o meu neto
e vou contar pra ele todas as histórias da minha infância que eu lembrar
todas as minhas aventuras e desventuras da juventude.
Como foi viver nos tempos da guerra, da ditadura.
Aí ele também vai ter um monte de histórias pra contar
e melhor, não vai falar nenhuma besteira nos poemas que ele fizer.

Parabéns Vó!

Nenhum comentário:

Postar um comentário