sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Jornada para Utopia: Dia 8 (Parte B) (versão de LVA)



E então, deixei o restaurante, fui a algumas lojas de presentes e comprei alguns cartões-postais, mas, infelizmente, esqueci de comprar imãs em Toronto e em Montreal. Tenho uma coleção no Brasil e planejava ter imãs de todas as cidades que já fui. Sorte minha que ainda vou para Boston e posso fazer isso lá, mas eu devo me lembrar na próxima vez. Eu também vi alguns lugares extravagantes como o cinema acima. O amor está no ar? De graça para casais na segunda e na terça. Pena que eu estava sozinho (e era domingo, ou nem tão ruim assim).
 



De longe eu podia ver meu destino. Le Mont Royal. Não é uma montanha alta, mas é um ponto turístico da cidade. Quando cheguei lá, a primeira coisa que vi foi essa estátua e muitas pessoas. Havia uma feira de artesanato, pessoas vendendo coisas e alguns homens tocando música. Isso era o que Fink havia me dito que eu devia ver: os famosos tam-tams. Pessoas tocando bateria. Eu gostei mas estava abaixo da minha expectativa se comparado com as baterias de um escola de samba ou uma fanfarra escolar.
Então, eu subi algumas escadas e comecei uma das trilhas asfaltadas para o alto da montanha. A vegetação era linda e havia muitas pessoas. Acho que é como um parque para eles, árvores, pessoas caminhando, casais, famílias, crianças, bicicletas, pessoas correndo. Eu estava observando todo mundo, alguns falando inglês, a maioria francês. Havia até um casal falando português e tentando tirar uma foto.




Chegando a certa altitude, a paisagem da cidade começou a se revelar entre os galhos e as folhas. Eu tinha certeza que assim que eu chegasse lá em cima a vista seria de tirar o fôlego.


E foi mais do que eu esperava. O tempo estava maravilhoso e mesmo que não tenha sido muito fácil ter chegado no topo (eu fiquei um pouco cansado), não era assim tão difícil. Havia centenas de pessoas no mirante e você tinha que esperar um pouco antes que pudesse chegar em um lugar para tirar uma boa foto ou ter uma boa vista. Atrás de mim, havia uma casa com bandeiras. Não lembro se era algum museu ou alguma coisa. Eu apenas usei o banheiro de lá e continuei subindo. Havia algumas outras trilhas e eu cheguei a uma cruz e a uma antena de transmissão.




A cruz era metálica e tinha algumas pessoas sentadas embaixo dela. Eu só passei por lá. Eu deixei a pavimentação principal e peguei essa trilha. Eu gostei dessa ideia de pegar uma trilha sem realmente saber pra onde ele me levaria. Acho que estou numa fase de caminhos. Grandes caminhos, pequenos caminhos, caminhos tortuosos, eles chamam minha atenção e estão me dando uma forte impressão ultimamente.



Depois de usar o banheiro e andar até a antena, eu decidi descer o monte. Seria fácil e em meia hora eu estaria na base dele. Cheguei nas trilhas pavimentadas e comecei minha descida. E tinha andado por 10 minutos quando vi uma pequena trilhar descendo pela floresta. Eu lembrei que eu tinha notado que a via pavimentada era desenhada como um U contínuo depois de outro. Então você andaria reto, teria uma curva e o caminho continuaria, paralelo ao anterior, na direção oposta. Fiquei pensando: porque eu tinha que andar até a curva se eu podia fazer meu caminho pela floresta e chegar no caminho pavimentado sem andar tanto? De pronto eu estava andando entre as árvores, descendo a colina. Havia alguma pessoas lá, as trilhas levariam para direções diferentes, então eu tinha calculado muito bem qual caminho seguir. Algumas partes eram mais íngremes. Eu tinha que segurar em galhos ou raízes, sentar, rastejar. E o caminho pavimentado nunca chegava. Passei por penhascos, cercas, então decidi voltar pelo caminho que eu tinha vindo. Comecei a subir e subir. Eu estava suando e estava há 30 minutos perdido por lá. O caminho pavimentado nunca aparecia, algumas pessoas indo e vindo e eu estava curioso para saber de onde elas estavam vindo. Eu percebi que eu andei em círculos. Então, eu comecei a seguir um rapaz estranho com um chapéu, que parecia mais perdido que eu. Chegamos em uma clareira e depois disso eu caminhei para outra direção e cheguei no caminho pavimentado. Estive perdido por lá por mais de meia hora. E eu ainda tinha o caminho para descer. Agora sem sair da trilha.

Quando eu cheguei lá embaixo eu tinha misto de sentimentos de alívio e culpa por ter sido tão estúpido. Eu estava cansado, também, por ter andado mais de 10 quilômetros até então. Eu cheguei ao outro lado do monte por uma caminho diferente do que eu tinha chegado. Acabei saindo em uma certa rua e descendo, percebi que os prédios eram de escritórios e que fazem parte da McGill University. 



Quando os prédios da universidade acabaram, eu cheguei em uma grande avenida. Eu acho que era a Sherbrooke. Andei por ela e vi mais prédios. Minha intenção era voltar para o Coop. Caminhei pelo centro e estava seguindo algumas placas para chegar em Old Montreal. Passei por alguns prédios interessantes e quando eu vi que eu não chegaria tão cedo na cidade velha, e eu já estava muito cansado, desisti de ir andando e entrei na primeira estação de metrô que vi. Estava há apenas três estações de lá, mas eu tinha chegado no meu limite de caminhar. Me sentei e meus pés doíam e eu só queria tomar um banho.
  




Quando cheguei no Coop havia muitas, muitas pessoas lá. Eles estavam fazendo o jantar de Ação de Graças e eu cumprimentei alguns deles. Eu fiquei feliz que o banheiro estava livre. Fink foi muito gentil em deixar eu colocar minhas malas no quarto dele para que não ficasse em um espaço público. Eu estava tão cansado. E ainda tinha uma festa de jantar.

Depois de tomar um banho e me senti melhor. Me troquei e fui para a sala de estar. Fink estava ocupado e as outras pessoas estavam apenas conversando e foi tão estranho que ninguém me perguntou qualquer coisa. Eu vi outro rapaz que parecia um pouco fora do lugar. Eu me aproximei dele e quase que nos cumprimentamos ao mesmo tempo. Eu contei para ele que eu era um couchsurfer e ele me disse que também era. Então as pessoas da casa estavam ocupadas e não tinham tempo para integrar as pessoas, tínhamos que achar nosso jeito de nos enturmarmos, de sermos notados. Sentamos no sofá e começamos a conversar. Stephen era de Nova Iorque e estava passando alguns dias em Montreal. Outro rapaz se juntou a nós e descobrimos que ele era o couchsurfer alemão que estava fazendo couchsurfing com alguém, mas iria pro Coop posteriormente naquela semana.  Nós não tínhamos lugar na mesa com os outros, então nos servimos e sentamos no sofá. Três couchsurfers (surfistas de sofás) sentados e comendo no sofá. Até tiramos uma foto disso. Simon e Anne se juntaram a nós mais tarde. Maïa também veio e ela foi a única pessoa da casa que realmente ficou um tempo conversando com a gente. Ela era tão legal. Algumas pessoas foram embora. Outras ficaram. As pessoas nos sugeriram de irmos para a balada que era vizinha à casa. O nome do lugar era La Tulipe. Eu não estava muito afim. Algumas pessoas foram para o telhado para fumar e outras estavam limpando a casa. Naquele momento e eu estava focado para conversar com um rapaz, vou chamá-lo de Kris. Ele disse seu nome duas vezes, mas eu não entendi e ele disse que era equivalente a Christian em alemão. Estávamos falando sobre nossas vidas e a conversa estava bem interessante. Todo mundo tinha ido embora e ficamos lá limpando e havia um rapaz que tinha chegado tarde e começou a tentar entrar em todas as portas, muito suspeito. Enquanto limpávamos ele continuou lá, apenas escutando a música, mas finalmente decidimos ir até a pista de dança e perguntamos a ele se ele que ir sair. Ele veio com a gente. Eu estava com receio de deixar ele lá sozinho. Nós descemos as escadas e entramos na balada.


A entrada era gratuita. De primeira, eu estava chocado. Eu nunca tinha visto uma balada como essa (e acho que nunca verei). A decoração era cafona e dos anos 1970, com certeza, ou mesmo de antes disso. As pessoas era uma coleção de exotismo. As idades iam de 18 (vamos ser otimistas) a 85 (mais de meia dúzia devia mesmo ter essa idade). Algumas pessoas dançavam e se olhavam ansiosamente, poderia-se dizer que eles estavam te comendo com os olhos. Achamos alguns de nossos amigos, eles estavam indo embora. Descobrimos que os outros estavam em um pequeno palco e fomos até lá. Stephen estava totalmente desconfortável lá, especialmente quando homens mais velhos tentaram lhe tocar. Kris e eu começamos a dançar, mas eu não estava muito animado com as situações e interações acontecendo a minha volta. A música era velha e estranha também. Músicas pop em francês de décadas de idade. Eu estava certo de que eles tocariam Jacques Brel, mais cedo ou mais tarde. Stephen desistiu. Ficamos mais um tempo. Quando estávamos para ir embora, corremos até Simon e Anne, que começaram a performar e cantar a música: Gigi L’Amoroso, de Dalida. Foi um show! Saímos e subimos as escadas. O pessoal estava pensando em fazer uma própria festa ao invés de tentar a sorte no La Tulipe. Eles conectaram o sistema de som e selecionamos um monte de músicas boas. Dançamos, criamos performances, suamos. Lembra que eu estava cansado? Já passava da 1 da madrugada e eu era um dos mais animados com tudo aquilo. Quem diria que com menos de 10 pessoas eu me divertiria mais do que com os 100 no vizinho?
Depois disso, Kris foi embora, alguns dos estudantes foram para seus quartos, mas Maia nós perguntou, Anne, Simon, Stephen e eu, que estávamos dormindo na sala de estar, se estaria tudo bem em deixar as luzes acesas porque ela queria pintar algo. Dissemos que tudo bem e eu brinquei que eu só dormiria se ela não continuasse cantando. Eu soube que ela era uma cantora profissional, que até já esteve na TV canadense! E eu estava só brincando. Ela ligou um LP e eu percebi que alguém tinha ficado irritado com aquilo e eu também não conseguia dormir até o LP acabar e eu desmaiei de sono, afinal eu estava muito cansado.

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