domingo, 15 de agosto de 2010

Não preciso mais voltar, lá não é o meu lugar

"Você vai ficar sozinho, velho e fedendo e com um avental engordurado, numa barraquinha de festa de igreja" as palavras ficaram ecoando ali enquanto os passos dele se afastavam e o medo do peso que elas iam ganhando ao se afundarem nos meandros da mente tomava conta. Em outros carnavais até que seria só uma piadinha de mal gosto e uma risadinha amarela e entra-por-um-ouvido-sai-pelo-outro. Mas é esse carnaval mesmo, e o eco grita e ouço uma risadinha de algum espírito malicioso e do meu superego. Daí, nada melhor do que combater com a melhor arma que se pode ter nesses casos afinal "do you need anybody? I want somebody to love. Could it be anybody? I want somebody to love." E a luta começa e escuta-se o plim do gongo tocando e o silêncio que antecede a contenda. Busca-se ir mais longe, num lugar onde nunca se foi, mas que se parece com todos os lugares onde já se havia ido mas faz tanto tempo que as impressões estão distantes e dessa vez vai ser diferente dizia uma nova vozinha dentro da cabeça. Frio e mais frio, mas a vontade é quente, ainda que não se saiba onde colocar as mãos elas acabam ficando nos bolsos pelo frio e pela incoveniência de estarem ali, sem uso inúteis. E a música alta vai embalando nas suas batidas ritmadas e vai fazendo mil corpos balançarem como se fossem apenas um. Olhos famintos vão de cá para lá em uma dança só sua e procuram alguma coisa que pode estar ali, mas nunca se revela. Um mar de sentimentos chega como tsunami, arrasando as defesas e barragens construidas pelos castores da alma como se fossem palitos de fósforos mal ajambrados. E a lúxiria ao redor vai aumentando e os corpos suam e a vontade aumenta o desejo que se tentava esconder numa casca de amendoim fica maior que aranha-céus e vai tomando conta do vazio que seria ocupado pelo outro. De repente um sinal do destino corporificado numa voz do passado que aparece careca e sorridente para informar que a vida é curta e há algo de errado ali. A felicidade que um rosto conhecido me traz numa multidãos de estranhos que se estranham e se comportando de forma estranha me tornam mais estranhado deles. A música aumenta a ponto de eu não poder ouvir meus pensamentos, mas a surpresa acontece. Como se uma luz de um holofote esivese apontada para mim ou uma descarga elétrica passasse por meu corpo, um raio mesmo, tudo se ilumina.

Me percebo.

E a resposta muda pois a pergunta se mudou e a segurança volta a acalmar as águas tempestuosas dentro de mim. Looking for beauty passa a ter um novo valor e me desvisto de todas as culpas, de toda a raiva, de toda a necessidade porque o que eu procuro não é o que eu penso que é. Eu sorrio um sorriso que nada tem daquele artifical e convidativo de antes e celebro minha liberdade do cárcere de ser uma imagem mais que um espírito de ser um robô mais que uma bailarina de ser maior me projenado num outro se eu posso me multiplicar em mil em mim mesmo. E eu nao preciso mais ser engraçado nem legal nem rico nem nada e posso seguir sendo apenas eu. Como galadriel sinto a tentação de "all shall love me and despair" mas prefiro diminuir, voltar ao oeste e continuar galadriel como ela fez. A felicidade me invade e eu celebro hoje o dia dos solteiros com muito orgulho e percebo que a busca deve continuar, meu caro Carlos, não se está velho demais pra essas coisas não. O que acontece é que com o passar do tempo nota-se que vida é curta e que se você deseja algo nada deve fazer você mudar de ideia, nem fila, nem a espera que pode ser longa. Posso não ter encontrado a intesidade nessa noite mas foi nela que encontrei a paz.