terça-feira, 9 de setembro de 2008

Você deveria saber

(em algum lugar de 2006)

(...)

Sei que pode parecer piegas que eu esteja plagiando uma certa cantora cujo grande sucesso foi uma música com esse título, mas acho que um dos motivos de ela ter composto tal música se encontra na raiz do meu mal e na certeza que este me impinge: é necessário expressar certas coisas, mas de maneira que o objeto de inspiração saiba o que estou falando.

A primeira sensação que tenho é de uma inescapabilidade. É impossível, seja por reza brava, seja por meios científicos ou de qualquer outra natureza, conseguir apagar o tipo de sentimento que floresce dentro de mim por você. Percebi que existe uma maneira fácil de controlar tudo isso, manter dentro de uma jaula, calado, mas parece que uma eliminação completa se inviabiliza pelos enredamentos da vida.

Sei que você pode me acusar de utópico. Diria que tudo o que existiu entre nós é fruto da minha imaginação dita doentia. Mas não posso deixar de pensar nas coisas como seriam, de me ver em situações que te envolvem, em como eu faria pra gerenciar a minha vida em consonância com a sua, paralela, pra não ser invasivo, mas ainda assim, aniquilando a distância que você não se cansa de me impor.

Assusta-me vislumbrar que talvez eu ame você. E esse amor seria o do tipo mais raro, daqueles que não dependem do outro, não é condicionado, nem reação. Ele é sentimento puro, que existe, apesar de você. Apesar de mim e dos esforços que eu faço para que ele não exista.

O grande mistério da circunstância jaz em um fato que talvez faça esse texto soar como um instrumento produzido pela força da frustração, o que não é de todo errado, mas simplifica demais a situação: como você, que não faz exatamente meu tipo dentro das minhas exigências estéticas, intelectuais e políticas, pode estar tão presente no meu dia-a-dia, nos meus pensamentos e preocupações? Eis a terceira que coisa que me assombra mais do que as outras. Queria acreditar realmente no que dizem as pessoas, quando elas afirmam que o que eu sinto por ti é motivado pela carência de estar com pessoas. Mas a equação se anula a partir do momento que há outras pessoas, há outras chances, e elas não são suficientes pra tapar o buraco que você deixou, nem quando elas não me fazem sentir o que eu sinto na sua presença!

Dentre as dúvidas sobre o momento em que errei, qual passo em falso dei, ou qual palavra mal colocada foi lançada no vácuo que nos separa, fica a certeza que por mais que seja emancipatório e libertador te escrever estas linhas tão cheias da dureza que a situação pede, ainda que a ternura tente invadir, a cada sobressalto que dou, a cada palavra escrita, fica mesmo esta certeza de que parece ser inútil, inócua, afinal, eu vou estar sempre onde não deveria aceitar estar: às margens da sua vida, anos-luz do centro do seu universo, na soleira da sua porta, na primeira fila, que seja – lugar privilegiado –, mas desejando estar no filme.

3 comentários:

  1. Hey kid,

    Acho que este texto me deu um outro panorama a seu respeito.De certa forma te tira do pedestal que eu te pus e te deixa mais perto de nós os mortais, que sofrem de amores mal resolvidos, que sonham com situações que podem parecer corriqueiras pra uns e perfeita pra outros. O amor só acontece quando tem espaço, e não há nada pra temer, só pra aceitar.Já ser feliz é outra história.Eu gostei bastante.

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  2. Intrigante saber que um dos seres humanos mais lindos do planeta experimenta essa vacuidade.
    O rei se vê maltrapilho, logo ele! Quem é o plebeu que se distingue entre os súditos?

    Aponte o cetro, sua alteza! Aponte enquanto é tempo!

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  3. Looking backwards: nossa, quanta baboseira tem nesse post hahahaha
    C'est passé!

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